Com o argumento de que os Estados Unidos sempre cobraram do Brasil 'respeito a contratos', a presidente Dilma Rousseff disse ao colega norte-americano Barack Obama, na segunda-feira, que a situação se inverteu. 'Como podemos fazer acordo na área de Defesa se o Congresso americano não respeita contratos?', perguntou a Obama, na Casa Branca, segundo relato da conversa obtido pelo Estado.
Dilma se referia a uma escalada de problemas que preocuparam o Brasil. O mais recente ocorreu em fevereiro, quando a Defesa dos EUA anulou a concorrência para compra de 20 aviões Super Tucano da Embraer (Veja box). No auge da briga jurídica com a empresa Hawker Beechcraft, congressistas do Kansas ameaçaram até entrar com pedido de investigação internacional para apurar subsídio do Brasil à Embraer.
A justificativa para o cancelamento da licitação foi de erros na documentação, mas o Brasil viu no episódio mais um exemplo de pressão política. Em 2006, o Senado dos EUA já havia proibido a venda de aviões Super Tucano à Venezuela por causa dos componentes americanos na aeronave.
A Boeing agora quer fornecer 36 caças F-18 para a renovação da frota da Força Aérea Brasileira, mas deve ser preterida. A empresa americana instalou escritório em São Paulo, como sinal de interesse em parcerias com empresas brasileiras. Não há, porém, aprovação do Senado dos EUA à venda nem certeza de cumprimento da promessa de transferência de tecnologia ao Brasil. O País está inclinado a comprar caças Rafale, da francesa Dassault.
Obama disse a Dilma que a questão com a Embraer será resolvida. Mesmo assim, na conversa reservada com executivos americanos (CEOs), também na Casa Branca, Dilma bateu novamente na tecla sem rodeios. Quis saber como os EUA puderam romper o que seria o primeiro contrato com a Embraer, num valor tão pequeno.
Dilma destacou que o País é a sexta economia do mundo, o sétimo maior superávit comercial dos Estados Unidos e o terceiro maior comprador de títulos americanos, depois da China e do Reino Unido. 'Somos um país que cumpre contratos e queremos que os contratos sejam cumpridos.'
Apesar da cobrança da presidente, o ministro Fernando Pimentel (Indústria e Comércio Exterior) não esticou a polêmica. 'É uma questão pontual, que será resolvida. Comércio é assim: passo a passo', amenizou. 'Não há problemas maiores e não existe restrição (à Embraer). A empresa tem uma instalação que funciona na Flórida e está estudando outros negócios aqui.'
Irã. Os temas Irã e Síria também foram abordados na conversa de Dilma com Obama. 'Não podemos deixar a questão do Irã se transformar num incêndio', disse ela, de acordo com relatos de participantes do encontro.
A presidente manifestou preocupação com a tensão no Oriente Médio e no norte da África. Apesar da pressão de Washington, Dilma ponderou a Obama que ações militares e sanções econômicas ao Irã 'são extremamente perigosas'. Repetiu o mesmo argumento em jantar na Embaixada do Brasil, com a presença de políticos, empresários e acadêmicos. Diante das ex-secretárias de Estado Condoleezza Rice e Madeleine Albright, disse que o Irã tem o direito de desenvolver programa nuclear pacífico.
Afirmou que o Brasil apoia a ação de Kofi Annan, enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria, e repudia a violência contra a população. / COLABOROU DENISE CHRISPIM MARIN
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