Delsão, ao longo dos anos, se apropriou de quase 150 mil hectares de terra no município, onde possui inúmeras serrarias e fornos de fabricação de carvão. Quase totalidade das terras que ocupa, são terras públicas federais e estaduais, no entanto, nem o INCRA e nem o ITERPA tem adotado qualquer medida para a arrecadação dessas terras. Em sua atividade sindical na década de 90, Dezinho apoiou várias ocupações de famílias sem terra em fazendas próximas às fazendas de Delsão, denunciou a prática de trabalho escravo em suas fazendas e a apropriação ilegal de terras públicas por parte do fazendeiro e madeireiro.
No processo de investigação da morte de Dezinho, a polícia chegou a uma testemunha que era irmã de um dos principais pistoleiros de Delsão, de nome Pedro. Relatou a testemunha que, incomodado pela ação do sindicalista, Delsão teria encomendado o assassinato de Dezinho a Pedro, no entanto, o pistoleiro, antes da execução, comentou o fato com seu irmão. Ocorre que o irmão do pistoleiro conhecia Dezinho e fazia parte de um dos acampamentos de sem terra, organizado pelo sindicalista. Dezinho foi então avisado da empreitada criminosa. Poucos dias após, o pistoleiro Pedro foi assassinado em Rondon. Suspeita-se que, a razão de sua morte foi porque falou demais e sabia muito. A testemunha relatou ainda para a polícia que o pistoleiro Pedro praticou vários assassinatos em Rondon a mando de Delsão.
Poucos dias após o assassinato do pistoleiro Pedro, o Sindicalista foi assassinado por outro pistoleiro de nome Welingoton de Jesus Silva. Welington foi preso em flagrante por populares logo após o crime. Foi condenado a 27 anos de prisão, mas, autorizado a passar um feriado de final de ano em casa, nunca mais retornou para cumprir a pena. Os intermediários do crime Igoismar Mariano e Rogério Dias tiveram suas prisões decretadas mas nunca houve interesse da polícia em prendê-los. No ano passado, dois outros acusados de terem participação no crime foram julgados mas foram absolvidos.
Delsão, foi preso pela polícia logo após o crime mas foi colocado em liberdade dias depois por decisão de um desembargador do Tribunal de Justiça de Belém. À época, a decisão foi duramente criticada como uma demonstração de favorecimento ao fazendeiro. A preocupação dos familiares do Sindicalista Dezinho e das entidades sindicais e de direitos humanos que acompanham o caso é que o imenso poderio econômico e a forte influência política que o fazendeiro e madeireiro possui na região possa influenciar no resultado do julgamento a seu favor. Três dos principais promotores da capital que atuam no tribunal do júri se negaram a fazer a acusação do fazendeiro no julgamento do dia 29 alegando razão de foro íntimo. Apesar de tudo isso, os familiares e entidades acreditam quem a impunidade não irá prevalecer e que a JUSTIÇA será feita.
Marabá/Rondon, 24 de abril de 2014.
Sindicato dos Trabalhadores Rurais de Rondon do Pará.
Federação dos Trabalhadores na Agricultura do Pará – FETAGRI.
Comissão Pastoral da Terra – CPT da diocese de Marabá.
Sociedade Paraense de Defesa dos Direitos Humanos – SDDH.
Fonte: Zé Dudu
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